segunda-feira, 30 de março de 2009

Dei asas ao azedume

Dei asas ao azedume.
Saciei-me, a poder d'ácido!

(Permita Deus que se esfume,
do átrio deste volume,
qualquer perfume a prefácio...)

— ... Dá-me licença que fume,
Senhor Conselheiro Acácio?...
Tem lume, aí? Dá-me lume?...
(Com o seu beneplácito,

Vou pegar fogo ao negrume:
dar-lhe o fascínio d’um fascio
— como o que ardeu em Fiume,
como os que arderam no Lácio!...)

Já, contudo, subo ao cume
do desencanto mais árido.
— Por costume? — Por costume.
— Mau costume... — Questão d'hábito!

Ando a ver se arranjo lume
violento, e violáceo,
para o queimar sem queixume —
Senhor Conselheiro Acácio!

(Trespasso-o a fio de gume,
cravo em si inglório gládio;
à espera que se aprume
e se apronte em seu cenário
— entaipo-o, então, num tapume,
sem direito a epitáfio).

E bem se me dá que espume
de raiva, e esperneie ao máximo —
seu galinácio implume...
Seu palhaço de palácio!

Contra a prosápia que assume,
criei crosta de crustáceo.
Haja o que houver, fico imune:
fico impávido e plácido.

(— Desafio-o a que vislumbre
coração mais coriáceo
do que este meu, que reune
o romântico e o clássico...)

... Dá-me licença que fume,
Senhor Conselheiro Acácio?...
Tem lume, aí? Dá-me lume?...
— Sem o seu beneplácito,

vou pegar fogo ao negrume:
dar-lhe o fascínio d’um fascio
— como o que ardeu em Fiume,
como os que arderam no Lácio!...


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